Ponto Final

"Nené" ainda não sabe , mas o Grande Prémio do ACP , disputado no Autódromo do Estoril , irá marcar o termo da sua carreira desportiva "a sério" . Mais tarde voltará , com participações esporádicas  noutras provas  mas a título excepcional e apenas por simples divertimento . Mas  voltando ao pomposamente chamado "Grande Prémio" , o Team Palma mostrava-se pouco confiante para a corrida de Grupo 1 , uma vez que o Camaro já há algum tempo vinha a dar claros sinais de "fadiga" e o carro idêntico de "PêQuêPê" parecia , pelo contrário , vir a "subir de forma" . Nos treinos , Ernesto Neves é surpreendentemente mais lento que os Alfas dos Sá Nogueira e o outro Camaro , quedando-se por um improvável quarto lugar , só possível porque o carro "fumegava intensamente quando curvava" . Mesmo assim "Nené" lá partiu para a corrida com o único objectivo de chegar ao fim , o que conseguiu , embora num modesto 5º lugar , enquanto "PêQuêPê" se veria novamente na posição mais alta do pódio , desta vez com mérito absoluto . Nos treinos para a corrida dos Grupos 3,4 e 5 , Dave Walker repetiu a "pole" de Vila Real e Carlos Gaspar levaria o Lola Bip à terceira posição , logo depois do Chevron de Martin Raymond . Ernesto Neves , com o GRD , consegue o sexto posto , atrás dos Chevron B23 de Juncadella e Lepp . "Nicha" Cabral faria a 8ª posição , com o March , vindo depois o GRD de "Lumaro" e outros carros menos competitivos . A corrida seria comandada por Dave Walker até à 20 ª volta , altura em que o piloto inglês bateria o record absoluto da pista para , logo a seguir , se despistar e abandonar . John Lepp herdou a liderança da prova que , entretanto , tinha ficado "ao rubro" com a luta que Ernesto Neves e Carlos Gaspar travaram pelo título de "melhor português" , que o primeiro venceu , acrescentando o terceiro lugar da classificação geral ao seu já vasto palmarés . Mas a tragédia estava prestes a bater à porta do Team Palma e aquele que foi um dos maiores campeões da história do desporto automóvel português iria , em breve , anunciar o seu abandono da competição . Uma vez mais , "uma tragédia nunca vem só".
Depois da partida , o GRD de Walker vem na frente , seguido do Lola de Carlos Gaspar , enquanto o GRD "Visa" de Ernesto Neves ainda está na sexta posição .
"Nené" passa Gaspar e prepara-se para ser o melhor português à chegada .

Uma semana depois desta corrida , Manuel Palma morre num brutal acidente de automóvel . Ernesto Neves perde assim o amigo , o mentor , a referência de muitos anos e , em sinal de luto , decide abandonar a competição . De igual forma , o Team Palma suspende a actividade e , em consequência , o panorama do desporto automóvel em Portugal nunca mais seria o mesmo .

"Nené" e as Crianças

Em 1973 , a popularidade de Ernesto Neves está no auge e a sua imagem de vencedor é disputada pelas modestas agências de publicidade portuguesas de então . As fotografias que junto reflectem os resultados de uma produção , realizada  por uma delas , servindo-se de crianças provenientes do leque de amigos do nosso campeão , a saber : Sofia Paiva Raposo , cumprindo exemplarmente o papel de uma das ardentes admiradoras que aquele capacete suscitava , Nuno Romão , representando na perfeição um "Nené" irreverente e provocador e , finalmente , João Pedro Guimarães , aparentemente o mais "cool" e reservado do grupo . As imagens , de excelente qualidade , falam por si e são extremamente eloquentes . O carro de corrida , o perigo ( capacete ) , a atracção do "público feminino" , o ambiente informal e divertido , são traços comuns a todas as fases da carreira de Ernesto Neves e aqui ficam ampla e originalmente documentados .
As fotografias , da autoria de Nic Boothman , "fizeram" as montras das lojas "Materna" de Lisboa e Cascais durante várias semanas e tiveram , como seria de esperar , um enorme sucesso .
Nota - As "bocas" do Nuno "Nené" são da exclusiva responsabilidade do autor do blogue .

"Está bem , pronto , eu gosto de ti . Mas agora deixa-me ir fazer a volta mais rápida"
"Vais ver a cara do João Pedro quando ele perceber que lhe esvaziei os pneus . "
"Oh Sofia , ou me dás a chave do carro ou logo não te levo ao "Van Gogo" !

O Fim de Vila Real Internacional , parte II

Como já foi dito , o "plantel" inscrito na prova principal , Grupos 3 , 4 e 5 , era de alta qualidade , com destaque para os Lola T292 do Team BIP , para Carlos Gaspar e Carlos Santos , um outro T292 para Jean-Louis Lafosse e um quarto para Tony Birchenhough . Vários Chevron B23  estavam presentes , com destaque para Peter Gethin , John Bridges , Juncadella , Jorge de Bragation , Roger Heavens , entre vários outros . Vic Elford inscreveu dois March 73-S BMW , um para si próprio e outro para "Nicha" Cabral , enquanto a GRD apresentava um carro oficial , para Dave Walker , e dois outros para Ernesto Neves e "Lumaro". Nos treinos seria Dave Walker a fazer o melhor tempo , com larga vantagem sobre o segundo classificado , Carlos Gaspar , tendo "Nené" garantido a quinta posição . Após a partida para a corrida , Walker toma a dianteira e Ernesto Neves assegura o terceiro lugar , posição que manterá até à sétima volta , altura em que é obrigado a abandonar devido a baixa pressão de óleo do motor . Vai assistir-se depois à "corrida da vida" de Carlos Gaspar que , gradualmente , ganha posições e acaba por assumir a liderança à 28ª volta , acabando por vencer a corrida .


Carlos Gaspar , com o Lola T292 , vencedor do último Circuito Internacional de Vila Real e detentor do record absoluto


Onde se comprova que Ernesto Neves passou pelo autor do blogue , em Vila Real 73 , e nem sequer deu um "ciao" ...                                            ( fotografia José Guedes )

O Fim de Vila Real Internacional , parte 1

Em 1973 , Vila Real vai conhecer o seu último Circuito Internacional e assim pôr termo a uma série de eventos de alta qualidade que marcaram toda uma geração . E a despedida , talvez por imprevista , incluiu um lote extremamente valioso de pilotos e automóveis , bem à altura  do melhor que então se fazia no resto da Europa . Nomes como Vic Elford , Dave Walker , Juncadella , Bragation , Roger Heavens , Carlo Facetti , Bob Wollek , Guy Edwards , etc , eram "primeiras figuras" da cena automobilística europeia e tiveram pela frente um lote de portugueses bem equipados , tais como Ernesto Neves , "Nicha" Cabral , Carlos Santos e Carlos Gaspar , para referir apenas alguns . Mas vamos por partes e comecemos pela corrida de grupo 1, onde havia grande expectativa pela presença de dois "Camaros" ( "Nené" e "PêQuêPê ) e dos Alfas GTV da Mocar , tripulados pelos irmãos Sá Nogueira , além dos BMW da Trevauto , para Melville e Albio Pinto , entre muitos outros . O "Camaro" de Ernesto Neves saiu da "pole position" e ao fim de três voltas já tinha 10 segundos de vantagem sobre o carro idêntico de "PêQuêPê" e 30 para os Alfas . Gradualmente , esta diferença foi aumentando e ao fim de 19 voltas ( penúltima volta ) "Nené" tinha o outro "Camaro" a 46 segundos e os Alfas a 1m 40 . Foi então que se deu o "golpe de teatro" quando , a cem metros da linha de chegada e em frente a um posto de gasolina ( cúmulo da ironia ) , o carro do grande campeão se imobilizou ... por falta de combustível !!! Alguém fez mal as contas e , quando tal acontece , o preço a pagar é muito elevado . "PêQuêPê" , o pseudónimo de Pedro Queiroz Pereira , iria assim obter uma saborosa mas inesperada vitória .

O "Camaro" de Ernesto Neves passa na "salsicharia" ...

... mas , desta vez , será o carro idêntico de "PêQuêPê" a fazer a festa ( imagem cedida por José Mota Freitas ).


O Camaro nas boxes ,  junto de José  Carlos Botelho Moniz e Madalena Monte Real , mulher de Ernesto Neves . Em baixo , os Alfas dos irmãos Sá Nogueira e uma fase da corrida em que se vê o carro de "Nené" a curvar a milímetros do lancil do passeio .

Chega o GRD

Regressado à "metrópole" , Ernesto Neves vai encontrar o seu "presente" mais desejado , um GRD S-73 , um dos carros de "Sport" mais competitivos da época , a nível nacional e internacional . Criada em 1971 por um grupo de ex-empregados da Lotus Components , a Group Racing Developments concentrou os seus esforços na produção de "Fórmulas" ( 2, 3 e Atlantic ) e carros de "Sport" , e obteve um sucesso considerável até que , em 1975 , a empresa se extinguiu , em parte devido à crise petrolífera . O chassis de "Nené" tinha o número S-73/072 e vinha equipado com um motor Racing Services , de cerca de 270 cavalos , sendo assistido pelo Team Palma sob a responsabilidade de David Monteiro . Logo nos testes privados realizados no Autódromo do Estoril , "Nené" tornou-se no português mais rápido de sempre neste circuito , enviando um claro sinal à concorrência .





Moçâmedes , Parte II

O Circuito de Moçâmedes era , como já foi dito , muito mais do que uma corrida de automóveis . Era , sobretudo , uma festa , e tudo isso está patente nas fotografias que aqui se juntam . Mas chamo , sobretudo , a atenção dos leitores para este texto de Ricardo Grilo , a quem agradeço .

"... no comando, Ernesto Neves teve o seu momento de apuro quando se apercebeu que o extintor estava a perder neve carbónica para dentro do habitáculo do Lotus, obrigando o piloto a partir com o punho o vidro do seu lado de modo a arejar convenientemente o carro. Já perto do final da corrida, Carlos Santos viria à box com uma fuga de gasolina num carburador, perdendo a segunda posição para o Porsche de Nunes. Três voltas depois, novo regresso à box e novamente a perda de mais um lugar, desta feita para o GT40 de Marta. No final, Ernesto Neves venceria e, antes da volta de honra, seria obrigado a mergulhar (vestido) nas convidativas águas da baía de Moçâmedes (note-se que se tratava das "Festas do Mar"). Podia ser pior: a água estava excelente e entre os muitos admiradores que o acompanharam no banho estava a conhecida Riquita, uma ex-Miss Portugal. Depois do banho, viria finalmente a volta de honra, o champanhe e os aplausos.
O regresso à metrópole também teve algumas histórias: Neves veio sem carro, porque o vendeu aos irmãos Fraga, importadores angolanos da Lotus. Américo Nunes também lá deixaria o seu belo Carrera 6, cedido a Herculano Areias. Quando Artur Ferreira, o reporter da (então revista) Motor encarregue de entrevistar os pilotos nacionais à chegada a Lisboa, foi ao aeroporto esperar pelos concorrentes, encontrou apenas Ernesto Neves e Carlos Santos. Como ele escreveria posteriormente na reportagem da revista, "Américo Nunes resolvera quedar-se pelas areias do Namibe,"preso"a alguma Welwitchia Mirabilis*..." 
O Lotus 62 , na sua versão "Moçâmedes", visto por Luís Bívar


Américo Nunes , "Nené" e Emílio Marta , na volta dos vencedores . Mas o que é "aquilo" ? Um Renault Floride ???


Os pilotos não ficaram muito bem na fotografia , mas é pouco provável que alguém repare neles ...


Em baixo , Riquita , já Miss Portugal , homenageada por mucubais e vestida com o traje ritual das mulheres desta tribo do sul de Angola . Lindíssima , em qualquer circunstância .

Moçâmedes , 1973. A Última Vitória

Finalmente , após várias tentativas frustradas , Ernesto Neves vai mostrar o seu talento em terras de Angola , mais exactamente em Moçâmedes , cidade onde se disputa um circuito integrado nas "Festas do Mar" . Segundo ao colaborador do "Motor" que fez a reportagem , o ambiente nesta cidade do Sul de Angola era semelhante ao que se vivia em Vila do Conde , na "Metrópole" , uma vez que apesar de estas não serem as corridas mais importantes da "Província" , o entusiasmo do público local era transbordante . Os pilotos "metropolitanos" eram "Nené" ( Lotus 62 ) , Carlos Santos ( Aurora Porsche ) e Américo Nunes ( Porsche Carrera 6 ) , que iriam defrontar um conjunto de concorrentes locais equipados com carros de Grupo 2 , excepção para Emílio Marta , que dispunha ainda do já "cansado" Ford GT40 . Vitória tranquila do campeão português , que acabaria por "deixar" o Lotus 62 em Angola , vendido aos irmãos Fraga , para ser tripulado por um piloto local , Valdemar Teixeira . Suspeitava-se então que "maquinaria" mais exótica estava para chegar às oficinas do Team Palma .
Como se constata através da reportagem de um jornal local , após a vitória , "Nené" foi forçado a cumprir um mergulho ritual nas águas quentes do Atlântico angolano . Para não correr  risco de afogamento em tão arriscada missão , o nosso campeão fez-se acompanhar pela belíssima "Miss Portugal" 1971 , Riquita . Ninguém poderia imaginar , mas Ernesto Neves estava então a comemorar a sua última vitória , em provas de velocidade pura . O panorama do automobilismo nacional nunca mais seria o mesmo .
Resta acrescentar que Carlos Santos viria a vencer a corrida de Grupo 1 , disputada na véspera , com um Ford Capri 2600 , cedido pelo representante local da marca , Renato Fraga .

Como aqui amplamente se documenta , "Nené" também era o mais "rápido" com as mulheres . E se Moçâmedes foi a última vitória nos automóveis , no "resto" muitas conquistas ( e alguns fracassos , presume-se ) haveria ainda para celebrar .
O banho do vencedor , com Riquita e Céu Castelo Branco . Um verdadeiro cavalheiro nunca permite que duas senhoras se afoguem ...
Tudo leva a crer que esta legenda seja relativa à corrida de automóveis , mas ...



Consagração no Estoril

Em Novembro , voltam as corridas ao Autódromo , para terminar oficialmente a época de 1972 . Desta vez o Camaro aguenta o esforço e Ernesto Neves vence a corrida de Grupo 1 , sagrando-se "in extremis" Campeão Nacional .

Na corrida dos Fórmulas destaca-se a presença dos bem competitivos Fórmula Super V , claramente mais rápidos que os Ford . Mesmo assim , "Nené" consegue um lugar na primeira fila da "grelha" , logo depois de Hotz e Leonhard , ambos em Super V . Porém , à quarta volta , Ernesto Neves abandona , alegando instabilidade do carro . Na prova dos Grupos 3 , 4 e 5 , o Lotus 62 vai medir forças com meia dúzia de Chevrons B21 e mais alguns Lola T212 , conseguindo um honroso quinto lugar nos treinos e uma "performance" interessante na corrida , mas acabaria por desistir devido a avaria .

Brands Hatch Fórmula Ford


Em Outubro de 1972 , os melhores pilotos de Fórmula Ford de 18 países encontram-se em Brands Hatch , Inglaterra , para um Festival Internacional de Fórmula Ford onde participam 36 concorrentes . A representação portuguesa fica a cargo de Ernesto Neves , em Lotus 69 Novamotor , e Santos Mendonça , em Merlyn MK20  Scholar . Durante a corrida , "Nené" anda sempre junto dos mais rápidos e acaba num honroso 7º lugar , atrás de Larry Perkins , um australiano que chegaria à Fórmula 1 . Santos Mendonça abandona , traído pela mecânica , mas a equipa portuguesa mostrou-se claramente à altura das circunstâncias .


Jornal "Motor" , 26/10/1972


Quinto lugar nos treinos . Not bad , really .

Dose Dupla no Monte do Faro

A época de 72 aproxima-se do fim e o "circo" dos campeonatos nacionais desloca-se até ao Minho , para disputar a subida do Monte do Faro , cerca de 2 km de alcatrão ( em mau estado ) e paralelipípedo . Para não variar , "Nené" vence a Fórmula Ford e a prova dos  Grupos 3,4 e 5 , conquistando a vitória absoluta e um novo record , com o Lotus 62 . Quanto ao Grupo 1 , o Camaro voltou a não colaborar , desta vez devido a uma avaria na caixa de velocidades , o que levou o Team Palma a ponderar uma tranquila passagem à reforma do "grande amigo" americano . Que , no entanto , ainda não estava totalmente "arrumado" , como adiante se verá .

O Lotus 61 M a caminho da vitória . Reparem bem no piso e imaginem o "conforto" dentro do habitáculo .
A parte mais "suave" da subida era formada por alcatrão irregular e a estrada era limitada por uns bem visíveis e ameaçadores "mecos" de granito . Só recomendável a gente com "coração" muito forte .
Talvez o Camaro tivesse a suspensão mais confortável para este tipo de piso , mas parece que a caixa de velocidades não terá gostado do excesso de vibrações .

Circuito Nacional do ACP

Em finais de Setembro  disputa-se , num Autódromo do Estoril ainda longe de completo , o Circuito do ACP , que vai trazer um pouco "mais do mesmo" ao limitado panorama automobilístico nacional . Na primeira corrida , Grupo 1 , Ernesto Neves parte da "pole position" e rapidamente se afasta da concorrência , formada por "Nicha" Cabral e Carlos Santos , em BMW 2002Tii , e Ribeiro de Sousa , em Alfa Romeo 2000 GTV , entre muitos outros . Mas  à 7ª volta , quando travava para os "s" , "Nené" ouviu um "estalar" de qualquer coisa e ainda pensou que teria problemas com um pneu . Parou na box , para inspeccionar , e logo se constatou que o semi-eixo traseiro esquerdo tinha partido . Fim de corrida para o Camaro e vitória para "Nicha" . Passando à prova dos Grupos 3,4 e 5 , encontramos os "suspeitos do costume" , excepção feita ao Chevron B21 de Carlos Gaspar , que se revelou o mais rápido nos treinos . Porém , durante a corrida "Nené" não deu hipóteses ao bem mais competitivo Chevron de Gaspar , acabando por ultrapassá-lo na terceira volta para não mais largar a liderança . Finalmente , realizou-se a corrida de Fórmula "Livre" , assim designada por incluir 8 Fórmulas Ford , 8 "Vês" e ainda mais 8 carros da Fórmula 1430 espanhola , formando uma original e lusitaníssima "grelha" . Uma vez mais , "Nené" chega em primeiro , completando o "hat trick" do costume .
O Chevron B21 de Carlos Gaspar ainda vai na frente , mas vai perder a posição para o Lotus de "Nené".
Partida para a corrida de Grupo 1 . "Nené" sai da  "pole" , tendo a seu lado o Alfa GTV de Ribeiro de Sousa e o BMW de "Nicha" Cabral .


O Camaro já lá vai , BMWs e Alfas fazem a perseguição . Mas , no final , seria o carro nº 25 a fazer a festa .


De Volta a Interlagos

Terminado o circuito de Vila do Conde , um "team" alargado , formado pelas equipas "Palma" e "Aurora" , vai atravessar o Atlântico , para disputar os 500 km de Interlagos , prova que se disputa no fim de semana seguinte , a 3 de Setembro . Obviamente , carros e pilotos não têm sequer tempo para recuperar dos esforços de Vila do Conde , muito menos para se prepararem convenientemente . Em qualquer dos casos , a concorrência era tão forte que a representação portuguesa a mais não ambicionava do que a uma prestação condigna . A "maquinaria" nacional era composta pelo Lotus 62 de "Nené" e pelo obsoleto Lotus 47 de Carlos Azevedo , do Team Palma , e os Porsche 907 e 906 de Carlos Santos , tripulados pelo próprio e por  Artur Passanha , assistidos pela "Aurora" . Augusto Palma , Eduardo Santos , Pedro Rasteiro e o mecânico David completavam a "embaixada" portuguesa . A corrida foi ganha por Reinhold Joest , em Porsche 908/3 , um nome que viria a fazer mais sucesso como director de equipa do que como piloto e que em Interlagos obteve a sua primeira vitória internacional . Luis Pereira Bueno , em Porsche 908/2 e , Herbert Muller , em Ferrari 512M , completavam o pódio . Ernesto Neves seria o melhor classificado dos portugueses , terminando em 9º lugar , uma "performance" brilhante , se atendermos à qualidade dos carros em pista e ao facto de os portugueses estarem desgastados pela viagem e pela agitadíssima vida nocturna de S. Paulo .
A equipa , à partida para S. Paulo . Em pé : Pedro Rasteiro , Carlos Azevedo , "Nené" , Manuel Palma , Artur Passanha , ? , David . De joelhos : Augusto Palma , Carlos Santos e Eduardo Santos . A presença de Manuel Palma nesta fotografia , abraçando carinhosamente o "seu menino" , pode considerar-se uma raridade e uma demonstração do imenso afecto que tinha por "Nené" , uma vez que se sabe que só muito raramente o "pai" Palma aparecia em eventos públicos , incluindo corridas . Tal como acontecia com um outro grande senhor dos automóveis , Enzo Ferrari .
No "armazém" , o Lotus de "Nené" e um dos Porsche 908 , em fundo
Uma fase da corrida , em que Luís Pereira Bueno , em Porsche 908/2 é perseguido por Reinhold Joest , em Porsche 908/3 . Este último viria a ser o vencedor .










Tragédia em Vila do Conde

Sábado , 26 de Agosto de 1972 . Às 16,30 dá-se início aos treinos para a corrida de Fórmulas V e Ford , em que participam Ernesto Neves , com o Lotus 69 , e Luís Fernandes , com o Lotus PLT , entre outros . Logo na primeira volta , ao chegar à "curva do rio" , Luís Fernandes perde o controle do seu carro e este mergulha , desgovernado , no rio Ave . Apesar da relativa rapidez dos socorros , o piloto foi retirado da água já sem vida , tornando-se na primeira vítima fatal de uma corrida de automóveis  em Vila do Conde . Sintomaticamente , o jornal local  "Renovação" , órgão oficioso do partido único , ANP , sempre tão expressivo quando se tratava de anunciar as corridas , não escreveria uma única palavra sobre os resultados desta prova e , muito menos , sobre o acidente de Luís Fernandes .  "Nené" seria  o vencedor da Fórmula Ford e da corrida de Grupos 3 ,4 e 5 , com o Lotus 62 . No Grupo 1, o Camaro começou a "fumegar" e , literalmente , "arrastou-se" até ao final , para frustração dos milhares de adeptos vilacondenses, nada habituados a ver o seu ídolo andar tão devagar . Mas a ocasião não era para festejos e celebrações , como se verifica pelo "ar" sombrio de Ernesto Neves enquanto "carrega" as suas tristemente conquistadas coroas de louros . Aliás , "Nené" não compareceu à cerimónia de entrega dos prémios e , em consequência ,os respectivos troféus ... desapareceram ! E esta seria a última vez que o grande campeão correria em Vila do Conde , confirmando o velho ditado que diz que "uma desgraça nunca vem só" .


Luís Fernandes , ao meio , foi também um vencedor e uma figura marcante no panorama do automobilismo desportivo em Portugal . A sua memória ficará para sempre ligada ao circuito de Vila do Conde , quer pelo seu desaparecimento quer pelas vitórias que aí conquistou .