1970, um Ano de Mudança

No princípio de 1970 chegam a Portugal os primeiros Formula Ford encomendados pelo Team Palma à Lotus Cars. Tratava-se do modelo 61M, que tinha sido apresentado no Racing Car Show de 1969 e que dispunha de um motor Holbay com pouco mais de 100 cavalos de potência, acoplado a uma caixa de velocidades Hewland MK6.
Na imagem de cima, um grupo de "fórmulas" recém chegados a Lisboa aguarda processamento alfandegário (foto de Ernesto Neves).
No final do ano, chega o momento de o Team Palma se desfazer dos Escort Twin Cam, que tanto sucesso obtiveram durante as duas épocas anteriores. O anúncio do "Motor" reflecte isso mesmo. (colaboração de José Mota Freitas).
Na publicidade da Sacor dá-se conta das 3 vitórias conseguidas por Ernesto Neves no circuito de Vila do Conde 1970.


Cinquenta Mil!

Este blogue acaba de ultrapassar a marca dos 50 mil leitores, número verdadeiramente significativo, particularmente se tivermos em conta que a carreira desportiva de Ernesto Neves terminou há quase 40 anos. É assim mesmo. As lendas não têm limite de idade.
Para celebrar a efeméride, nada melhor que ilustrar este texto com o símbolo da vitória, a coroa de louros. E não estão aqui todas. Longe disso.


















Em Repouso

Durante demasiado tempo (vários anos) o Lotus 62 repousou em várias garagens de Lisboa até que, em 1995, encontrou um novo proprietário depois de Ernesto Neves ter colocado um anúncio de venda numa conceituada revista inglesa da especialidade, Classic Cars. Estas são imagens inéditas relativas a esse período.


Selenia Ghibli Open Cup 1995

Em 1995, Ernesto Neves participou na sua última corrida "a sério", tripulando um Maserati Ghibli na prova da Selenia Open Cup disputada no Autódromo do Estoril. Depois de uma paragem de 22 anos, "Nené" voltou aos circuitos  e mostrou que o essencial ainda "estava lá", como o comprova o excelente 8º lugar obtido na corrida, depois de ter sido 11º nos treinos. Outro veterano, Arturo Merzario, seria o vencedor.


Ainda o Lotus 62

Em Junho de 1990, a revista inglesa Thoroughbred & Classic Cars publicou um curioso texto sobre os Lotus 62, ilustrado com a imagem que aqui se junta. Graham Arnold, o Presidente do Clube Lotus, faz o seguinte comentário:
"Colin Chapman pediu a Jim Endruweit para levar um chassis de Lotus 47 para as instalações do Team Lotus. De seguida, foram criados dois protótipos sem recurso a quaisquer desenhos ou planos, tendo apenas como referência  a base do 47. Em ambos os chasssis foram instalados motores Lotus LV/240 de 16 válvulas, construídos a partir de blocos Vauxhall. Lembro-me que quando os carros começavam a ganhar forma, de cada vez que eram testados regressavam à base para colocarem mais um conjunto de apêndices aerodinâmicos destinados a manter a estabilidade do conjunto. Mais tarde, os dois Lotus 62 foram entregues a John Miles e Brian Muir, que com eles participaram em várias provas, sem grande sucesso. John Miles dizia que, em relação à potência disponível, este era um dos carros mais lentos em linha recta que alguma vez tinha conduzido e que, provavelmente, todo o conceito da parte frontal estaria errado, uma vez que este Lotus tinha uma incontrolável tendência para levantar voo". 
No final do texto, Graham Arnold assegura que o chassis T62/01 estava nos EUA, enquanto que o T62/02 tinha sido vendido para uma colónia portuguesa em África (Angola) e estaria agora de volta a Portugal. 
Esta versão é confirmada por Ernesto Neves, que voltou a ser proprietário do carro pouco depois do seu regresso a Portugal, na década de 70, e o manteve até 1995, altura em que o Lotus 62 foi vendido para o Japão.
Na imagem, obtida no Hipódromo de Cascais, é o cavaleiro olímpico António Vozone quem voa por cima do Lotus 62.

Há mais de 40 anos no ACP!

Quantos clubes se podem gabar de ter sócios tão antigos? Mário Madeira era o presidente do maior clube português de sempre em 1969.






Lotus 62 - 25 anos em Portugal

Em 1969 a Lotus Components produziu dois exemplares de um chassis a que atribuiu a designação de modelo 62, concebidos por Martin Waide para serem conduzidos por John Miles e Brian Muir. Equipados com motores derivados do bloco Vauxhall 2.0, os Lotus 62 cedo viriam a revelar-se relativamente pouco competitivos e com sérios problemas de aerodinâmica.
 Em 1970, o Team Lotus publicou numa revista da especialidade um anúncio de venda para ambos os carros, tendo um deles (62-02) vindo para Portugal para ser conduzido por Ernesto Neves, que com ele conquistou uma impressionante série de vitórias.
Em 1973, Ernesto Neves e o  Lotus 62 vencem o circuito de Moçâmedes, acabando o carro por ficar em Angola depois de vendido a um piloto local. Mais tarde, depois de ter sofrido um violento acidente, o Lotus volta para Lisboa e acaba por ser comprado por Américo Costa, um dos mais activos e eficientes mecânicos das oficinas de Palma e Morgado, que o recupera quase completamente (o motor ficou com  problemas de ignição). De seguida volta para a posse de "Nené", que o mantém até 1995, altura em que coloca no boletim do Clube Lotus e na revista Autosport um anúncio para a sua venda. Um coleccionador japonês fechou o negócio e presume-se que o Lotus 62 continue ainda hoje a disputar provas no Japão.
Veja-o aqui num vídeo realizado no circuito de Fuji, em 2010
http://youtu.be/_SiBZv0pTXI





 Em 1969, com John Miles ao volante. Note-se a profusão de apêndices aerodinâmicos destinados a impedir que o carro "levantasse voo".

Para Venda

 Anúncio colocado por Palma & Morgado para venda do Morris Cooper S "Broadspeed" ex-Ernesto Neves.
A relação deste com a empresa de Manuel Palma tinha começado pouco tempo antes, quando  "Nené" decidiu substituir o seu já pouco competitivo Porsche 356 por um bem mais rápido e moderno Lotus Elan, com o qual disputou algumas provas no início da época de 1967, alternando com o Cooper S.  Porém para poder ter hipóteses de conquistar o Campeonato Nacional de "Turismo" desse ano, Ernesto Neves entregou o Morris a Manuel Palma e em troca recebeu o Ford Cortina Lotus ex-Jim Clark que tinha vindo a competir em Portugal, sem grande sucesso, pelas mãos de Augusto Palma. O resultado viu-se. Logo na primeira corrida, Montes Claros 1967, Ernesto Neves sagra-se vencedor e começa a sua caminhada para a conquista do título de Campeão Nacional. Estava prestes a começar uma parceria de grande sucesso com a marca de Colin Chapman.
PS - Gostaria de saber quem foi o feliz comprador do Mini. Alguém tem uma ideia?

Agradeço ao J. Mota Freitas este invulgar documento.

Montes Claros, 1967. Primeira corrida - e primeira vitória - com o Ford Cortina ex-Team Lotus.



Conversas na Grelha

A imagem é relativa ao circuito de Montes Claros de 1969 e nela podem ver-se Carlos Santos, Filipe Nogueira e "Nené" Neves em amena "cavaqueira" pouco antes da partida. O jovem que ouve atentamente a conversa é José Filipe Nogueira, filho do veterano campeão. A corrida viria a ser ganha por Carlos Santos, em Porsche 906, mas o carro mais rápido em pista seria o modelo idêntico tripulado por Joaquim Filipe Nogueira, que acabou por abandonar já perto do final com o cabo da bateria partido, quando seguia em primeiro lugar. 
Ernesto Neves conduzia o cansado Lotus 47 do Team Palma, o último carro do tipo que ainda continuava em Portugal (os outros já tinham "emigrado") e que nada podia fazer contra os dois bem mais potentes Porsche 906.

Team Palma 1970

A época de 1970 representou o apogeu do Team Palma na competição automóvel em Portugal. Na imagem podem ver-se, da esquerda para a direita: Augusto e Manuel Palma, responsáveis pela equipa, e os pilotos Ernesto Neves, Miguel Rau, Luis Fernandes e Francisco Santos. No seio da organização "Nené" fazia o pleno, participando em todas as categorias desde o Lotus Elan de ralis ao Escort Twin Cam de "Turismo", passando pelo Fórmula V e pelo Lotus 47 de Sport/GT. Nesse mesmo ano seria introduzida a Fórmula Ford no nosso país, tendo o Team Palma preparado oito carros para clientes e um para Ernesto Neves, que com ele viria a conquistar o campeonato respectivo, vencendo também o campeonato de Fórmula V ao volante de um dos "Palma V" produzidos nas oficinas do Team.


Montes Claros 69

Ernesto Neves e António Peixinho participaram no circuito de Montes Claros de 1969 com os Ford Escort Twin Cam pintados com as cores do Team Palma. Apesar da diferença de potência entre os Escort e o BMW Alpina de José Lampreia, "Nené" ainda conseguiu o melhor tempo nos treinos, deixando o concorrente mais próximo a um segundo de distância. Porém, na corrida os carros do Team Palma foram claramente batidos pelo BMW e acabariam afastados da luta pelos primeiros lugares devido a ... furos.
Para compensar, Ernesto Neves venceria a prova de Fórmula V com relativa facilidade, como o comprova a legenda da fotografia publicada no "Motor" onde se diz que "Nené" tinha por hábito olhar para a assistência enquanto fazia "slides" mas que, mesmo assim, os resultados "iam saindo".
Não tenho a certeza a quem devo atribuir os créditos pela imagem da esquerda, mas suspeito que o autor seja Rui Bevilacqua, já creditado por outras bastante semelhantes obtidas no mesmo local e na mesma época.


Vila Real 1968

Continuando a profícua colaboração dos leitores, aqui fica uma curiosa fotografias obtida por um jovem  Ângelo Pinto da Fonseca durante o circuito de Vila Real de 1968. O Lotus Elan de Ernesto Neves vai já em plena aceleração e passa em frente às instalações da Renort, no início da descida para a Timpeira.
O fundo ligeiramente desfocado acentua a sensação de movimento e confirma que a velocidade do obturador era a correcta para esta circunstância. Claro que as máquinas fotográficas eram totalmente manuais, nesta altura, pelo que o mérito vai todo para o fotógrafo.


50 Anos de Vespa

Quase 50 anos separam no tempo a fotografia a preto e branco das restantes. Em 1963, Ernesto Neves conquista a sua primeira vitória numa prova de desporto motorizado aos comandos de uma Vespa. Em Julho de 2011 estreia a sua nova Vespa encarnada com um pequeno passeio até Monsanto. A condução é agora bastante mais calma, como recomendam os abundantes cabelos brancos dos acompanhantes que se vêem na imagem, mas não é certo que as coisas continuem assim por muito tempo.
Mas o que é aquilo? Os calções de banho também têm Vespas?
Também quero.









Em baixo, a equipa Vespa junto do restaurante do campo de rugby do Grupo Desportivo de Direito. Em cima, à esquerda, a partida para a prova de 1963 e, à direita, os calções de banho que estão a causar sensação em Palma de Maiorca. Podem clicar para ver melhor.


Um Porsche com TV !!!

A história é verídica e conta-se num instante. Em 1964, uma irmã de Ernesto Neves deslocou-se a Tóquio para assistir aos Jogos Olímpicos de Verão, facto verdadeiramente invulgar na sociedade portuguesa de então que pouco - ou nada - conhecia do mundo. Numa altura em que ter um receptor de televisão a preto e branco era ainda um luxo a que só poucos tinham acesso, a irmã de "Nené" trouxe-lhe de presente um pequeno aparelho de TV portátil, último grito da tecnologia nipónica. Instalado o receptor debaixo do "tablier" (não devia dar muito jeito...) do Porsche 356 e a respectiva antena no tejadilho, o mínimo que se pode dizer é que este carro seria tudo menos discreto. Apesar disso, várias meninas acreditaram que era possível ver no Porsche de "Nené" as transmissões do "Danger Man" e do Festival da Canção na praia do Guincho. Não consta que tenham visto grande coisa, mas pelo menos ficaram com uma história para contar. Alguns cínicos sugeriam que, dada a falta de assiduidade de "Nené" às aulas, a TV do Porsche iria permitir que ele seguisse as emissões da Tele Escola, mas tal nunca foi confirmado.

Esboço e aguarela de Luis Bívar

Visita

"Nené" visitou a exposição "Vila do Conde anos 60" a qual, entre muitas outras coisas, presta homenagem à sua brilhante carreira automobilística. Como não podia deixar de ser, algumas admiradoras fizeram questão de se fazer fotografar junto do grande campeão, para mais tarde recordar. De resto, o elemento feminino de qualidade foi (e é...) sempre uma constante na vida desportiva (e não só) de Ernesto Neves. Vá lá saber-se porquê ...
Invejoso, eu???






Houve quem dissesse que "andamos a trabalhar pró boneco". Parece que "Nené" também ...