Crónica de um Ano Vitorioso

"Conquistando três títulos de Campeão Nacional - Fórmula V , Fórmula Ford e Grupo 2 - Ernesto Neves foi a grande vedeta de 1970 , como já havia sido no ano anterior . Um piloto de verdadeira categoria , mas a pedir agora actividade internacional para se guindar a uma posição de grande relevo , conforme agora ficou uma vez mais demonstrado após a sua actuação no Brasil ... tal como Ernesto Neves , que deveria tentar algumas provas internacionais pois sobra-lhe valor para, no dia em que o desejar, poder rapidamente colocar-se ao lado dos bons pilotos europeus ."
"Motor" , 31/12/1970

Fotografia FLAMA/ José Mota Freitas

Em Interlagos

Em Dezembro de 1970 Ernesto Neves atravessa o Atlântico para disputar a Copa Brasil , uma corrida realizada no renovado Autódromo de Interlagos , no estado de S. Paulo . Vivia-se então , no Brasil , a euforia provocada pela chegada de Emerson Fittipaldi à Fórmula 1  e pela  vitória por ele logo conseguida do GP dos Estados Unidos , razão que levou um grande banco paulista a patrocinar esta série de corridas , que deviam contar com representantes das várias comunidades de emigrantes residentes no estado de S. Paulo . Assim , além dos irmãos Fittipaldi , com os Lolas T210 e T70 , e de outros pilotos locais , participaram os espanhós Bragation e Soler Roig , em Porsche 908 e 907 , dois japoneses desconhecidos , e o italiano Moretti , em Ferrari 512 . A representação portuguesa ficou a cargo de Ernesto Neves , com o pequeno  Lotus Europa Racing , que não tinha quaisquer argumentos para enfrentar a concorrência . Mesmo assim , "Nené" ainda conseguiu um honroso sétimo lugar entre os 17 concorrentes à partida . Emerson Fittipaldi , em Lola T210 , foi o vencedor natural .
Na imagem de baixo , "Nené" e o mecânico David , o mesmo que trabalhou uma noite inteira para reparar o                   motor do Lola T70 de Wilson Fittipaldi , que se recusava  colaborar . Mais um exemplo da solidariedade lusitana .



Wilson Fittipaldi , em Lola T70 , ainda à frente de Emerson Fittipaldi , em Lola T210 .

Emerson e "Nené" , uma amizade que perdura .

O Tricampeão de 1970 ( entrevista )

Transcrição da entrevista concedida à jornalista  Maria do Céu , do "Motor" , ela própria também piloto de velocidade e uma figura marcante do ambiente automobilístico da época .
"O popular Nené , sem dúvida o nosso mais cotado piloto de velocidade , conseguiu neste ano de 1970 um palmarés invejável e pouco fácil de igualar . Ele foi precisamente campeão em três dos agrupamentos em que correu e obteve ainda um segundo lugar do 4º agrupamento onde esteve presente . Vieram parar-lhe à mão as vitórias em Fórmula Ford , Fórmula V e  Grupo 2 ( nas duas últimas com vitórias absolutas em todas as provas em que correu ) e um 2º lugar no agrupamento GT & Protótipos . Ernesto Neves , com quem falamos "in extremis" antes da sua partida para o Brasil , atendeu-nos com a sua habitual simpatia e franqueza de sempre . E quando lhe perguntamos se tinha tido dificuldade em obter os títulos que lhe foram conferidos após o Campeonato de Velocidade de 1970 , o nosso entrevistado respondeu :
- « Não posso dizer que tivesse tido grandes dificuldades , especialmente nos Vês e Grupo 2 , já que ganhei todas as provas que fiz . No entanto , reconheço que isso não é apenas consequência de eu ter sido melhor ou de as coisas me terem corrido quase sempre bem . O certo é que há relativamente poucos concorrentes a competirem a sério . Se houvesse mais concorrentes com melhores carros e assistidos por boas oficinas , elevando portanto o nível dos competidores , estou certo que nem tudo me correria às mil maravilhas . Se isso se verificasse , até os títulos por mim alcançados teriam mais valor .. Apesar de todas as contingências , pois naturalmente que estou satisfeito e reconheço que num determinado conjunto de circunstâncias me foi possível obter um palmarés difícil de igualar , mesmo por mim próprio , a menos que o nível do automobilismo evolua muito rapidamente . É bom não esquecer , também , que o campeonato teve apenas três circuitos e algumas rampas . Num campeonato a sério , com um número de circuitos normal , não sei se tudo me teria corrido assim tão bem . As hipóteses eram mais mas o factor azar também podia ter surgido mais vezes . "
Abordamos depois o facto de o Team Palma ter acabado e , consequentemente , como iria ser a sua aceitação na época que se avizinha . Nené esclareceu-nos :
- « O Team Palma acabou porque a sua existência não tinha interesse . Ao longo de bastante tempo fomos defendendo marcas que não são as representadas por Palma & Morgado como , por exemplo , a Ford , isso sem recebermos pela parte da marca beneficiada qualquer ajuda que se visse . Esta situação não nos interessava continuar a defender e , por isso , no próximo ano apenas correrei com o Lotus 47 . Talvez mesmo não procure outros carros enquanto não houver pistas . Nos Fórmulas terei que pensar bem no caso , porque não havendo Team Palma eu terei que jogar com os subsídios e verificar se eles chegam , ou não , antecipadamente porque não estou interesado em gastar do meu dinheiro . Se , feitas as contas , os resultados não forem maus , então continuarei .»

... e Mais Quatro "Poles" !


O "romance" de Vila do Conde ( que belo título para um circuito de automóveis ... ) , com Ernesto Neves como protagonista , ficaria incompleto sem o resultado dos treinos para as quatro provas do programa . Já aqui foi dito que "Nené" venceu três das quatro corridas , mas faltou acrescentar que conquistou a "pole position" ( melhor tempo , nos treinos ) para TODAS elas , incluindo a categoria GT & Protótipos , na qual deixou um Ford GT40 e um Porsche 906 a "ver navios" ou , tratando-se de Vila do Conde , a "ver traineiras" .
Este fim de semana vilacondense terá representado uma das maiores manifestações de genialidade alguma vez vista em matéria de desporto automóvel , em Portugal .

Com o acelerador a fundo , o Lotus 61 levanta a roda direita dianteira  na curva da "seca do bacalhau" .


O Lotus Europa não tinha potência para fazer face ao Porsche 906 , mas chegava a "incomodar" .


Volta de Honra , com Ernesto Neves , vencedor em Grupo 2 , Fórmula Ford e Fórmula V , ao lado de Carlos Santos , o vencedor da corrida de GT


O Romance de Vila do Conde


 " Vila do Conde espraiada , entre pinhais , rio e mar  , lembra-me Vila do Conde logo me ponho a suspirar". Assim escrevia José Régio , no "Romance" , e isso mesmo deve sentir Ernesto Neves de cada vez que se lembra do fantástico fim de semana de 29 e 30 de Agosto de 1970 em que ganhou , de forma categórica , três das quatro corridas do programa . E só não ganhou a quarta porque a performance Lotus Europa estava a "anos-luz" do Ford GT40 e Porsche 906 que o precederam . Além do mais , a organização foi considerada a melhor de todas, pelos jornalistas , e não houve "casos" a ensombrar as classificações . Nada de protestos ou dúvidas , portanto . Todos se conformaram com a absoluta superioridade do Campeão , dominador em Fórmula Ford , Fórmula V e Grupo 2 .






O cronista da "Renovação" , de Vila do Conde , referiu-se à organização em termos verdadeiramente entusiásticos , chegando a dar um novo significado às iniciais do Estrela e Vigorosa Sport , EVS . "Eficiência , Vontade e Sabedoria" , diz o escrevente , sem deixar margem para dúvidas . E gostei particularmente da parte em que se refere ao EVS como "prestante Clube Portuense" , forma subtil de confirmar a reconhecida vocação para a escrita das pessoas de Vila do Conde .


A Agonia de Montes Claros

Sem condições mínimas de segurança e com o piso muito degradado , o circuito de Montes Claros vai caminhando para o abandono , o que não vai demorar muito a acontecer . Uma vez mais "Nené" vence a decadente Fórmula V e impõe o Escort Lotus na corrida de Grupo 2 . Na Fórmula Ford , faz o melhor tempo dos treinos mas acaba por abandonar a corrida devido a problemas de motor , enquanto o Lotus Europa Racing se revela incapaz de fazer frente ao Porsche 908 de Bragation , em GT .


Augusto Palma ao volante do Escort Lotus da sua equipa , o "Team Palma".
Fotografia cedida por Luís Teixeira

Vila Real 70

Cerca de 80 carros fazem a viagem até Vila Real para disputarem as cinco corridas inscritas no programa . À sua conta , Ernesto Neves leva nada menos do que quatro "montadas" para disputar quatro provas diferentes , a saber : o "Palma V" , com que ganharia a respectiva corrida ; o "Escort Lotus" , vitorioso em Gr. 2 ; o Lotus 61 , que chegou em 2º na Fórmula Ford ; e o Lotus Europa Racing , nome pomposo que "esconde" o velho Lotus 47 , que não terminaria a prova de GT .
Partida para a corrida de Fórmula V , vendo-se Miguel Rau ligeiramente adiantado em relação a "Nené" e António Barros .
O BMW "Alpina" de Lampreia arranca melhor que os Escort de Francisco Santos e Ernesto Neves , na partida do Grupo 2 .
Louros para Christian Melville  e Ernesto Neves

Nota - segundo Carlos Guerra , no seu livro "O Circuito de Vila Real  1931-1973" , Christian Melville foi desclassificado na corrida de Fórmula Ford , tendo Ernesto Neves sido declarado vencedor .
Partida para a corrida de Fórmula Ford ( colecção Francisco Vieira e Brito )

Vitória em Espanha

Disputado no Circuito de Jarama , o "Trofeo Deporte Español" colocou em confronto alguns dos melhores carros e pilotos existentes na Península Ibérica , ficando a representação nacional a cargo de Ernesto Neves , Domingos e Bernardo Sá Nogueira , e Burnay Bastos . Depois de ter obtido o segundo melhor tempo nos treinos para a corrida de "Grupo 2" , com o Escort Lotus , "Nené" vai fazer uma das melhores provas da sua carreira e derrotar toda a oposição , nomeadamente o espanhol Lencina e o seu BMW 2002 Alpina , ex-Dieter Quester . O campeão português venceu a corrida à média de 110,073 km/h , tendo também obtido a volta mais rápida com o registo de 111, 316 km/h , o que diz bem do ritmo a que esta se disputou . Os outros portugueses desistiram , por várias razões .


 Troféu do Vencedor e  taça para a volta mais rápida .

A Experiência Aquática

Em Abril de 1970 , Ernesto Neves aproveitou uma pausa nas corridas de automóveis  e decidiu testar-se a si próprio num "mundo" completamente diferente , a motonáutica . Para isso ,  acedeu a um convite de Luis Manuel Ramalho , uma conhecida figura do meio , que gentilmente disponibilizou um"casco" Molinari , ao qual " Nené" juntou o motor Chrysler de 105 cavalos que equipava o seu barco de recreio , usado principalmente para actividades de ski aquático . Depois, inscreveu-se no Grande Prémio da Páscoa , prova a decorrer na barragem de Elvas , incluída no chamado Torneio das Barragens . Competindo na classe ON , com um casco algo antiquado , "Nené" nada podia fazer contra os "catamaran" utilizados por outros concorrentes mas , assim mesmo , ainda logrou um magnífico terceiro lugar na prova em que participou , a qual foi ganha pelo "campeoníssimo" da altura , Manuel João Raposo , o iniciador de uma "dinastia" de campeões de motonáutica que continuaria com o seu filho , José Joaquim , e com o neto , Paulo Raposo .
"Nené" em versão "aquática" , por Luís Bívar


O barco de ski , o motor Chrysler ... e as meninas .
Manuel João Raposo ultrapassa "Nené" na "rondagem" de uma bóia .
Manuel João Raposo , o campeão que veio de Salvaterra de Magos e , em baixo , José Joaquim e Paulo Raposo , em acção . Acrescente-se esta mensagem de José Joaquim Raposo , para Ernesto Neves :

« É uma grande honra para a família Raposo ligada á motonáutica desde 1960 participar no BLOG de um GRANDE CAMPEÃO.
Abraços
Lecas »



Os Mecânicos

Um piloto de automóveis poderia até ser genial , como era o caso , mas os seus esforços de nada valeriam se não tivesse por trás de si o talento , o trabalho e a dedicação de uma equipa de mecânicos eficaz e disciplinada .
Estas imagens representam uma pequena e singela homenagem a esse grupo de homens , cuja participação nas vitórias nem sempre tem o reconhecimento merecido .
Na imagem de cima , obviamente em Vila do Conde , são visíveis alguns dos mecânicos do Team Palma , a saber :  Américo , Caneças , Álvaro , David, Moita , Joaquim e Calado  .  Francisco Santos e Augusto Palma , o "patrão , estão em primeiro plano . Por aqui se pode ter uma ideia da dimensão do Team Palma e da logística envolvida , uma vez que apenas uma parte da equipa está aqui representada .

Em baixo ,em pé , da esquerda para a direita  : Luís Fernandes , Lampreia , Augusto Palma , Filipe Nogueira e "Nené".
De joelhos : Américo , o filho de Filipe Nogueira , Calado e David




Os mecânicos eram sempre dos primeiros a festejar as vitórias , como aqui se documenta . Do lado direito , com óculos e barbicha , está Domingos Piedade , um prometedor jornalista .


II Rampa de Monsanto


O histórico Clube 100 à Hora organizou a II Rampa de Monsanto , tendo "Nené" participado com nada menos que três carros diferentes : dois "fórmulas" ( V e Ford ) e Lotus Elan . Vitória folgada em ambos os "fórmulas" e segundo tempo absoluto ( com o FF ) , logo depois do Porsche Carrera 6 de Carlos Santos . Em GT & Protótipos o Lotus Elan ainda "chegou" para os três Porsche 911S de Lampreia , Américo  Nunes e Pedro Rasteiro , só sendo batido pelo Ford GT40 de Fernandes e pelos Porsche Carrera 6 de Carlos Santos e Filipe Nogueira .




Em Quatro Frentes


Para a época de 1970 , Ernesto Neves vê-se envolvido em nada menos que quatro campeonatos completamente distintos , a saber : Fórmula V ( Campeão em título ) , Fórmula Ford ( estreia absoluta ) , Grupo 2 ( Escort Lotus ) e GT ( Lotus 47 ) . Nos "intervalos" , o Lotus Elan ainda vai surgindo aqui e ali , como adiante se verá .
A época começa justamente com o Elan , no Rallye das Camélias , permitindo a "Nené" a conquista de um honroso segundo lugar , logo atrás do "senhor dos Porsches" , Américo Nunes . Mas será na Rampa da Pena que o nosso campeão vai fazer história , com a estreia e vitória na Fórmula Ford , com o Lotus 61 . Assinale-se , como curiosidade , o facto de Américo Nunes ter aqui pilotado um carro de fórmula , um Lotus Ford , facto que aconteceu pouquíssimas vezes na carreira deste grande piloto .


                                      

Lotus 61 , motor Holbay  , 100 hp , cx Hewland  .

O Melhores de 69

A Associação Portuguesa de Jornalistas de Automobilismo elegeu os "melhores do ano" de 1969 em Portugal , tendo Ernesto Neves sido o escolhido na categoria "Velocidade" , como se vê no quadro junto . Entrevistado pela jornalista Maria do Céu , a propósito de ter sido eleito o melhor de 69 , "Nené" foi igual a si próprio :
- « Acho que a Associação teve uma boa ideia e já que vai fazer isto todos os anos o melhor é começar já a preparar-me para o ser de novo ...»


Manuel Palma

Já aqui foi dito que o "Team Palma" foi uma das estruturas de competição mais importantes da história do desporto automóvel em Portugal , tendo marcado uma época e uma geração de pilotos . Na sua génese esteve Manuel Palma , ele próprio desportista e técnico de grande mérito , como se comprova pelo brilhante segundo lugar obtido no Rallye de Monte Carlo de 1951 , fazendo equipa com o Conde de Monte Real . Nunca , até então ou depois , alguma equipa portuguesa esteve tão perto de vencer esta  lendária competição .
É esta figura ( que "Nené" olha com reverente admiração , na fotografia ) que vai marcar em definitivo a carreira do nosso campeão ,  pela competência técnica e pelo rigor mas , principalmente , pelo exemplo . Em 1970 é o seu filho Augusto , também ele piloto e técnico com provas dadas , que dirige o "Team Palma" , o qual acaba de apresentar os carros e os pilotos que vão disputar a época que agora se inicia . Na notícia do jornal , que junto , falta o nome de Luis Fernandes , que também vai integrar a equipa , com o seu Ford GT40 .


À esquerda , em baixo , a equipa que conquistou o segundo lugar no Rallye de Monte Carlo 1951 , na companhia de D. Fernando Mascarenhas e , à direita , uma imagem cheia de simbolismo , em que "Nené" surge debaixo da carinhosa "protecção" de Augusto Palma .


Final da Época , em Monsanto

Poucos inscritos para a Rampa de Monsanto ( Serafina ) , que vai encerrar a temporada . Vitória na Fórmula V , o que faz com que Ernesto Neves tenha vencido TODAS as provas da categoria em que participou . Com o Lotus 47 consegue superiorizar-se ao Ford GT40 de Luís Fernandes , mas é novamente batido pelo Carrera 6 de Filipe Nogueira .

Fotografia cedida por Pedro Barros

À Noite , na Pena


Em Outubro de 1969 disputa-se a Rampa da Pena nocturna , um percurso de 2,000 metros na Serra de Sintra com um gradiente médio de 7,5 % , em que os treinos são disputados entre as 20 e as 23 horas , e a prova realizada logo a seguir . Os resultados limitaram-se ao "possível" , uma vez que os Porsche 906 de Carlos Santos e Filipe Nogueira se mostraram inatingíveis .




Em Jarama , para Aprender

Participação honrosa em Espanha , no meio de figuras importantes da época , algumas dotadas de material "topo de gama" . Vejam só : nº 63 , Alex Soler Roig - Porsche 907 ; nº 61 , Teddy Pilette - Alfa Romeo 33 ; nº 62 Taf Gosselin - Alfa 33 ; nº 41 Carlos Santos - Ford GT40 ; nº610 , Emilio de Vilotta - Lotus Seven .



Nurburgring , 1969

Em Nurburgring , o nosso campeão iria ter uma primeira e grande surpresa , quando verificou que nos treinos  tinha sido cerca de 11 segundos (!) mais lento que o carro da "pole" , o Kaimann de Bross , tendo por isso sido "empurrado" para a penúltima fila da grelha de partida , lugar por onde nunca tinha andado . Diz Domingos Piedade que o motor do Palma V não fazia mais que 6000 rpm , enquanto os motores dos Austro , preparados na Porsche Salzburg , faziam 8000 rpm ou mais ! Escreve Domingos , no "Motor" : « Os Austro , Olympic e Kaimann andavam muitíssimo mais que o PalmaV . Na subida do Sudschleife passavam pelo "Nené" como se ele estivesse parado ( e ainda há quem proteste contra o PalmaV , em Portugal ) . O Augusto Palma e o Caneças abanavam a cabeça e diziam que aquilo era ... Fórmula 3 » . No final , "Nené" conseguiu um honroso 12º lugar , entre 40 inscritos , o que , não sendo mau , ficou abaixo das expectativas que o piloto e a sua equipa tinham criado a si próprios .

Algures em Espanha , a caminho do Nurburgring . O Jaguar materno serve de "rebocador" .

Nürburgring Südschleife

Considerado por muitos como o mais fascinante e perigoso circuito do Mundo , o Nurburgring era composto por dois "anéis" : o Nordschleife , com 22,810 km , e o Sudschleife , com "apenas" 7, 747 km . Juntos perfaziam um circuito com 28, 265 km , que incluía dezenas de curvas de toda a espécie e declives que iam até aos 16% (!) .
Apesar da pouca largura da pista , o Sudschleife ainda serviu de palco ao Grande Prémio da Alemanha de 1960 , mas começou a ser abandonado a partir de 1971 , por óbvias razões de segurança . É neste contexto que Ernesto Neves , temporariamente retirado ao ambiente limitado e algo "paroquial" das corridas portuguesas , vai enfrentar as elites da Fórmula V europeia .
O "pequeno" Nurburgring , como também era conhecido , foi desactivado em 1981 e hoje apenas resta um pedaço de estrada mal conservada . Mas este filme dá uma boa ideia da beleza e da dificuldade do percurso .

... e mais Replay

Em Vila do Conde a história repete-se e a temporada termina sem alterações ao "padrão" das últimas corridas . "Nené" vence a Fórmula V com larga vantagem sobre a concorrência e Carlos Santos impõe o Carrera 6 nos GT & Protótipos . Na categoria "Turismo" , José Lampreia continua sem opositores à altura do seu  BMW Alpina , que parece ser de "outro campeonato" .
E , a propósito de "outro campeonato" , Ernesto Neves já "tem a cabeça" no Nurburgring , onde irá disputar a Taça da Europa de Fórmula V e medir forças com a "nata" europeia desta categoria . Um jovem jornalista chamado Domingos Piedade é destacado para fazer a reportagem . A "coisa" promete .




O "duelo" Lampreia / Ernesto Neves , que acabaria favorável ao BMW do primeiro . Foto Jorge Tavares

Imagem das "boxes" em Vila do Conde 68 , com o "Olympic V" de Nogueira Pinto em primeiro plano .